segunda-feira, 14 de maio de 2007

Florbela Espanca


A maior Tortura

Florbela Espanca

A um grande poeta de Portugal


Na vida, para mim, não há deleite.

Ando a chorar convulsa noite e dia ...

E não tenho uma sombra fugidia

Onde poise a cabeça, onde me deite !


E nem flor de lilás tenho que enfeite

A minha atroz, imensa nostalgia !

...A minha pobre Mãe tão branca e fria

Deu-me a beber a Mágoa no seu leite !


Poeta, eu sou um cardo desprezado,

A urze que se pisa sob os pés.

Sou, como tu, um riso desgraçado !


Mas a minha tortura inda é maior:

Não ser poeta assim como tu és

Para gritar num verso a minha Dor ! ...

Nenhum comentário: