sábado, 19 de maio de 2007


As águas transformadas em vinho em Qaná de Galiléia.

As águas podres do Rio, num rio de Mossoró.

Pingos d’água que sem permissão caem em nossos torrões.

Uma lágrima que rola face abaixo sem saber o porque.


Um rio roxo,

Estreito, mal feito,

Defeito...Lama correndo pro mar.

Fedorento, Mau cheiroso,

Sem peixes, sem algas.

Coliformes fecais Morrem asfixiados.

Oxigênio? Nunca mais!

Aedes não agüenta,

Hepatite se arrebenta,

Cólera fugiu com medo,

Meningite se mandou,

A gripe reside nele,

Contraiu pneumonia...

As doenças quem diria,

Mossoró? Rio? Jamais.


Mas porque os Orixás que derramam água de cheiro, nas sujas águas do mar, sentindo o sal ameno e a podridão borbulhar. Debulha minha Iansã os seus respingos de água sobre o manto de Alá. No sertão da terra seca onde a água é inanição, as árvores crescem pros Céus procurando a imensidão, mergulhando em nuvens soltas no tempo, na escuridão. Ah! Que água! Essas moléculas de hidrogênio fantasmas líquidas que escorregam entre as nossas sujas mãos. Água podre, água serena descendo de morro abaixo procurando um agasalho. Águas saídas do chão, como um derrame mortal faz nascer as plantações. Água de quarenta graus, que somente o homem bebe, Passarim não bebe não. Essa vista da cor d’água que nós chamamos de mar, transparente azulada na rentidão espelhar, é o reflexo do céu da entranhas do universo que nos chega pra brilhar. Ah que água transparente que se despenca do alto, nas cachoeiras dos rios, águas que vão se sujar.


Açudes espelhos noturnos

Que os homens construíram

Para guardar águas devassas

Que as nuvens expeliram.


A água que desce na pele, por sentir a solidão, água que vem da tristeza pra se plantar lá no chão, faz crescer arvores e plantas do meu triste coração.
Uma gota branca, um orvalho, se escorregando no ar, desliza por entre ventos, misturando-se ao mar.
Milhões delas já caíram, ninguém mais pode encontrar, são delicadas, minúsculas, nas águas se misturar.
Como uma lágrima que rola, de um choro que escapou, de um lindo olhar claro, de champagne que brindou.


De repente o sol provoca,

do calor descomunal...

vapores sobem às nuves,

formando um manacial.

O ar condensa os vapores,

pra água se sustentar,

o mesmo calor do sol,

faz a nuvem se soltar.

Começa de novo a dança,

gotículas descem a bailar,

parecem cristais azuis,

partículas vindas do mar.

Nasci numa terra,

onde não tem água,

tem bichos morrendo,

tem homens com mágua.

O sol quente numa planta

que com água cresceu,

uma planta que sem água

e com o sol morreu.

Passam as águas,

molhando o chão,

sufocando a terra,

germinando ervas,

dando vida aos grãos.


Na mesa farta de pratos vazios, a criança pede um copo de água e a mãe derrama lágrimas por não poder sanar a sede do filho que chora sem se conter e sem sentir que ele próprio faz rolar sobre a sua face, gotas desse líquido que ele tanto clama. No roçado o rude homem em sua eterna esperança, trabalha duro preparando a terra para receber a santa água que irá fazer as plantas brotarem da terra umedecida por esse liquido milagroso que vem das bandas do céu. A chuva chega acompanhada de uma forte ventania e vai se espalhando por terras sem fim, levando o solo ensopado de muita água, dirigem-se numa só direção: os mares, os oceanos de águas salgadas. A água doce que cai numa cachoeira, desce o rio descontroladamente e caminha entre as matas e pedras fabricando pequenas lagoas em sua trajetória sem fim. Água, água quem diria, algum dia irei comprar mas eu talvez já não esteja nessa vida pra contar.


Rogério Dias

Um comentário:

SAM disse...

Um texto espetacular! Grandioso de sentimentos - um grito humanista. Faz dos meus olhos brotar lágrimas que sobem aos céus em forma de súplica aos meus irmãos.


Beijo